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O insight de Mike Mainieri

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O álbum de Mike Mainieri Quartet chamado “Insight”, lançado em 1968, cuja capa de olhos cobertos e abertos de folhagens e na íris a imagem do quarteto se exibindo ao olhar mágico, em um tipo de quadro kitsch e pós-moderno apresenta:

Na primeira canção “Autunm Leaves” murmúrios que criam uma cena entre a cinematográfica e a literária, mas que de fato são narrantes, narram. São notas instrumentais que parecem falas em conversas outonais.

 

Na segunda canção “Skating in Central Park” um passeio noturno observando estrelas, um desenho, uma pintura entre a melancolia e a esperança. Um quê de desenho animado cujo personagem principal não fala, mas representa, uma espécie de Charles Brown já adulto, que em seu tom reflexivo visita um baile de jazz e bebendo seu uísque senta-se sozinho numa mesa diante do show, com um sorriso amargo de operário, mas aberto a alguma surpresa mágica que lhe traga uma experiência reveladora de nuances no cotidiano tedioso da vida banal dos que estão entregues à rotina de afazeres irrefletidos.

 

Na terceira canção “Rain Child” um carro que acelera e refreia em um trânsito de reflexões.

 

Na quarta canção “On the Trail” uma confusão e briga nonsense sobre questões graves tão arraigadas que sem razão são a razão de um acidente. A tensão se desdobra e se absorve num retorno ao caminho de então.

 

Na quinta canção um bar toca bateria em suas taças de cristal preenchidas de bebidas coloridas e desniveladas. Ele começa a bebê-las freneticamente e retoma o concerto um tanto caótico.

 

Na sexta canção é a continuação da performance do barman, roubando a cena e invertendo todo o sentido do espaço. O que deseja dizer? Seu frenetismo controlado é uma espécie de tentativa de murro ou de vômito? E quase desmaiando encerra.

 

Na sétima canção a batida remete a alegria de um passo descontraído pela orla de uma cidade concreta, ouvindo canções e seu ritmo, cumprimentando os transeuntes, fazendo passos e manobras, dançando conforme segue para qualquer local. Descolado, dono da cidade, é isso aí, meu irmão, como vai a força, o sol brilha, a praia tá pegando, vê se me acompanha na ginga. Pisca e continua, beija uma estranha que estranha não ser a musa de Baudelaire e segue e segue… de repente acordando de uma cesta sobre a mesa do escritório onde babara sobre os documentos. Retornando para casa após mais um dia de trabalho repara nas folhas de outono caindo ao entardecer rosáceo. É um homem padrão cuja derrota lhe é condição de sua introspecção pacífica que vê em tudo um reflexo de uma natureza que morre, mas que renasce.

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