E D O N

Palavra e imagem se configuram para compor o sentido de tempo e espaço, fundamentais ao seu mundo cândido, entre o trágico, o cínico e o farsesco; o miserável, o patético e o extraordinário, sua jornada é vivida e mortificada, no que se pode julgar sua obra, as criações de sua consciência e coração, ao menos sua busca, atravessada pela ingenuidade, insuportavelmente decisiva para um instante memorável.

Lembranças

Lambanças

                                                        A fera 

                                                   no picadeiro

                                         domando 

                                                            o espaço 

                                          num rugido

a cartola o engoliu

feito um rato que rói

o medo

  

e abre

caminho ao avesso

das sombras terrenas

trapézio

é

a linha

do 

E os malabaristas

fazedores de relógio

 

cujas horas são sempre agora

e minha lembrança

a dura presença do futuro

forjada à luz do cuspidor de fogo

e do estômago forrado em pipoca

e algodão-doce

sonho de que se acorde

noutro sonho de que se

adormeça

do sono

da saudade

da ausência

Espetáculo

 

 

olhos da arena

pelo cenário

de ruínas

armas

feras

 

carcaças que performam

a guerra

entre

o medo e a fúria

 

conforme a plateia se prende às telas

pelo que ainda

lhe enceta o frisson

nas fímbrias

 

devassadas pupilas

de urros insípidos

 

ensurdecedoras

 

abominações

que se calam

fundo

 

num horror de domingo

A cidade


Reduto aprazível

onde humanos se somam

 

predatórios

heroicos

indefesos

 

códigos para o melhor relacionamento:


ultrapasse seu otário

cuidado: assalto em andamento

sorria você está sendo filmado

Embora falhos / posto

que de repente:

                                                                   

ALGUÉM SALVE ESSE HOMEM

 

O coração:

 

tutu             tutu                    tutu

 

Os afetos / contudo são mostra

de que a harmonia é possível

entre espécimes solidários

ainda que sem juízo

 

Os flanelinhas limpam com cuspe os vidros

Os para-brisas param moscas

quando não entram na boca dos ciclistas

 

Atropelamentos estão na ordem do dia

 

PEDESTRES DISPAREM

Um prédio parece desabar

outro entrar em chamas

 

Todos odiamos o acaso

de nossas más ideias

sobre o conforto

 

Hoje deveremos ser mais fieis

aos nossos sonhos

ainda que desatados

 

A cosmovisão de tal urbana

arquitetura remete a jaulas sem fera

a um parnaso sem fruto

 

BIIIIIIIIIII

SAI DA FRENTE / PALERMA.

 

E a comunicação se deslinda

no jogo político dos acordos vencidos

em dívidas de apostas inofensivas

cujo ouro é pão

 

Loucos são os que seguem sobrevivendo

em nome de esquizofrenias e chavões

Evoé Baco entre as lamentações

de uma estrutura de barro

em que o real é tão pesado

quanto o pesadelo vago

trazido à concreção

 

PÁ PUM PIMBA CROC TRORRRRR E PÁ PUM PIMBA

 

O expediente começou

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