E D O N

Pergunta ao matemático

Os números irracionais podem ser considerados do ponto de vista estético, principalmente de inspiração hegeliana, como ideia indeterminada própria de uma arte simbólica, ou seja, em que forma e conteúdo são exteriores um em relação ao outro e, assim, pelo conteúdo não implicar uma forma e essa não ter conteúdo, serem ambos inadequados, impróprios; o que produz a sem medida, o monstro.

 

Como o conteúdo se trata do infinito cuja forma finita da matéria não se adapta o símbolo é o que melhor se lhe exprime, sugerindo que tais números talvez não sejam apenas de conceito formal distinto dos números naturais, por exemplo, mas sim de natureza, aos quais a tentativa de um cálculo e precisão sob a lógica operativa dos naturais e mesmo inteiros não faz sentido.

 

Se a questão, no caso, é antes de proporção não se poderia pensar a partir do oposto, ou seja, de se valer de algo sem medida para determinar os determináveis finitos do que se anseia medição?

 

Se a Pitágoras é inconcebível a irracionalidade da hipotenusa, a irracionalidade não estaria no fato de se atrelar o entendimento de extensão com o de quantidade? Se os números naturais podem ser tanto múltiplos de unidades ou múltiplos de extensão e os números inteiros a razão entre extensões e, portanto, a dimensão entre unidades relativas de todo e parte, não seriam os “irracionais” números dimensionais, ou seja, que se referem aos limites infinitesimais, integrados numa reta natural?

 

A simetria seria a prova de que unidades de extensão relativas se desdobram de seu limite central em múltiplas partes, alterando a integridade ao limite pontual da separação em que a simetria se multiplica em totalidades; o que permitiria se pensar tais números dimensionais como índices do grau de integração ou de desintegração em que uma forma se transforma no limite de ordem de seu conteúdo.

 

Forma e conteúdo exteriores, de fato, são causais, ou seja, a relação de ambos não é estática, mas dinâmica, em que o conteúdo determina o processo porque a forma vai se definindo até o ponto dimensional de duplicação, cuja forma mais se identifica com o desenho de um símbolo.

 

Não à toa, símbolos são mais próprios ao exercício da arte, pois indicam processos e movimentos de cunho, afetivo, psíquico e sentimental.

 

A matemática pode ser pensada como uma tentativa de suspender toda indeterminação, presente nos símbolos, tornando-os signos de literalidade pela qual se defina a razão como um método de ciência sobre a natureza. Mas, pergunto ao matemático, não seria a matemática mais exata sobre o que é a natureza se mais do que uma linguagem se estabelecesse como uma arte?

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