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Djavan à luz da cidade

Em “Luz”, álbum de 1982, Djavan apresenta um som urbano, cujos temas da vida cotidiana, dos desejos comuns, dos afetos fugidios e intensos, dos sentimentos profundos e dramáticos alcançam seu caráter pop, através de uma semântica que expressa a transitoriedade, a efemeridade, a transmissão de impressões que comunicam uma semelhança. Esta que, por sua vez, fundamenta nossa sociabilidade citadina.

 

Este estilo indica a predominância cada vez maior das dimensões comunicativas da arte, reforçada pelo desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação, que aprofundam, mais a economia de trocas simbólicas, do que o processo de produção de sentido, emerso de uma história, ou de uma cultura social embutida nos costumes, desse modo, oscilando entre o estabelecimento de estereótipos, seus clichês performáticos (próprios de uma mediania comercial, profissional) e a sincera conexão de momentos de vivência, de intenções de provocar experiências ou compartilhar visões idealizadas de mundo.

 

O aumento do grau de abstração a partir do uso das palavras sem referência em fatos experimentados, mas de fantasias provocadas muitas vezes pela simples montagem linguística, torna as letras mais importantes enquanto o ritmo musical se secundariza, acompanhando e complementando o intuito da mensagem.

 

Os solos de saxofone ou do piano, por exemplo, reforçam o canto, como um aprofundamento do clima psíquico, procurando tocar o inconsciente de cenários intencionais, onde nossas sensações, impressões e sentimentos se sedimentam em cenários, personas e dramas, constituintes do substrato de nossa personalidade.

 

Na faixa “Banho de rio” que aparentemente mostra uma contradição nesta análise, de fato, a confirma, pois o vazio melancólico do desejo – que se vale do saudosismo – reforça seu estado emotivo. O passado e as imagens naturais são evocações que se prestam ao canto do eu-lírico, a fim de expressar seu clima interior. Em verdade, não há qualquer natureza referida, ou reminiscência, mas tão somente tais imagens (cujo senso beira ao arqueológico) que se fragmentam na urbanidade de seu isolamento. É como um trovador de seu apartamento pensando em flores sob a chuva ácida.

 

O sentido metalinguístico da mensagem que se deseja imprimir, em que a sonoridade acaba muitas vezes se sobressaindo como manifestação material da linguagem, como conteúdo significativo da composição, uma espécie de formalismo, se abstrai de maneira analógica. Analogia por meio do som, da semelhança do som, trazendo à baila uma palavra, porque esta rima com outra, com a qual se componha o ritmo urbano.

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