E D O N

Quando a arte e a cultura falham em suas respostas, e as ruínas são tudo o que resta, que caminha se desbrava?

E como? 

Movido por qual força de vida ou potência ainda existente, sem desmoronar a cada passo duvidoso?

É o que um velho vocalista de rock encara em sua aventura acidentada.

O ritmo de urgência com que os capítulos se seguem num crescendo, logo se aplacam em saltos, que mal podem contar uma história, só reagindo ao que agora se exige de acontecimento.

Canções de improviso é o máximo que alcança seu talento quase impotente, ainda que ardendo.

É muito difícil entender o seu tipo de arte, a decepção que calcula aos que atentam às suas palavras de eu aflito.

Não sabe o que busca, tal abre espaço a um mero ato difuso.

Ao fim, seu canto é um eco dando voz a uma versão dos tempos, tão suspeitos em seus desejos e nãos.

Candido é o eu-lírico que escapa dos sulcos digestivos, seus poemas são os ossos que restaram, meio tingidos das tintas que o maquiaram outrora, mas que agora lhe derretem ácidas como a chuva, ou um caldo fervente de sensações e temperos rançosos, que seu sangue talvez torne saboroso, ao menos o seu entendimento decisivo que o lidere ao desfecho da própria derrota poética, onde uma liberdade nasça incógnita e pela qual renasça dos intestinos, onde o coração é víscera.

Dividido em quatro partes que se misturam de través o livro é uma espécie de viagem incerta, cuja totalidade se anula quando encontram uma unidade, em que complementares abrem passagem a uma consciência.

Pois as presas, que crescem desde a infância, ganham traços de uma alegria sensacional.

Já um tanto inóspita quando se lhe mistura o tom melancólico e o ardil de sua figura ácida.

Chovendo pela história sua lágrima radioativa de sombras profundas, tal qual ascendidas, num lance de cólera que as torna mais coloridas, numa rima espetaculosa e sinceramente cínica, que ninguém suporta.

É uma visão ansiosa, presa à cadência de razões poderosas, pelas quais cede a cada aparição luminosa sua verdade óbvia, cuja revelação lhe agarra e lhe naufraga de ciência, conforme o liberta da própria.

© 2022 por Edon